Entrevista com a Engenheira Sónia Claro
Entrevista à Engenheira Sónia Claro, Diretora Geral da Monteiro Fabrics, para a revista Monteiro Ribas.
Qual foi o impacto do COVID-19 nos colaboradores da Monteiro Fabrics?
Tivemos uma ação muito intensa e concertada da área de Saúde e Segurança, com a implementação de muitas medidas. Acho que tivemos um desempenho muito bom como grupo e as pessoas sentiram-se confortáveis e apoiadas. Reagimos rapidamente e sinto que fizemos um bom trabalho. Conseguimos que os nossos trabalhadores se sentissem tranquilos na vinda para o trabalho, com todas as medidas implementadas. Disponibilizamos máscaras em tempo recorde. Todas as questões relacionadas com segurança e higiene foram resolvidas num período de um a dois meses. Esse foi um aspeto muito positivo. A dinâmica e a perceção das pessoas sobre a empresa mudaram. Perceberam que havia uma preocupação com o bem-estar dentro da administração e gestão.
E no negócio?
Do ponto de vista económico, tivemos uma queda de 20% na receita em 2020. Tivemos um trimestre com impacto maior, entre maio, junho e julho. Durante este período, estivemos em situação de lay-off. Foi um processo complexo que exigiu muita comunicação e contacto próximo com os nossos colaboradores, para os ajudar a compreender que não se tratava de um despedimento, mas sim de uma pausa, de uma adatação. Analisamos a situação de cada colaborador e procuramos minimizar o impacto individual. Quanto aos mercados, dizer que perdemos 20% de receita indica que eles retraíram. Temos uma fatia significativa do mercado ligado ao setor hoteleiro, incluindo hotéis, restaurantes e bares. Fabricamos diversos produtos para esse tipo de clientes. Tudo parou, principalmente nos três meses que mencionei.
Em 2021, o negócio começou a recuperar lentamente. Ainda não atingimos os níveis de 2019 em quantidade, mas oferecemos um produto valorizado, com maior valor agregado, o que nos proporciona margens maiores. Desta forma, vamos superar o volume de receitas desse ano através dos preços, atingindo os 7,5 milhões de euros.
Como define o seu mercado de clientes?
Temos cerca de 90% de exportações e 90% dos nossos clientes estão na Europa. Portugal representa menos de 10%. Também trabalhamos com clientes de países africanos e asiáticos. Os mercados estão a começar a recuperar, mas o mercado hoteleiro está intimamente ligado ao impacto da pandemia. Ainda representa uma parcela significativa do nosso portefólio.
Quais são os fatores diferenciadores dos produtos da Monteiro Fabrics? Vou começar com um fator básico, que é a qualidade. Os nossos produtos são de alta qualidade e mantemos consistência no que entregamos. Também têm uma componente de design associado. Outro aspeto, talvez o mais diferenciador, é o serviço que prestamos. Temos como objetivo atender a cada vez mais necessidades dos nossos clientes através de um atendimento personalizado. Estamos a trabalhar para melhorar a experiência do cliente.
Trabalham com pedidos personalizados?
Nos últimos dois anos, focamo-nos em ampliar a nossa gama de produtos com quantidades de 30 metros, criando um Stock Service para entrega imediata. No passado recente, as quantidades mínimas de pedido eram de 300 metros. Por outro lado, continuamos a oferecer encomendas personalizadas, um serviço que existe há vários anos, onde os produtos são confecionados à medida das especificações de cada cliente.
Como imagina o futuro?
Atualmente, a nossa gama de produtos está orientada para o calçado de segurança fabricado na Europa, apresentando inúmeras propriedades técnicas. Outra gama em que estamos a trabalhar inclui produtos sustentáveis aplicáveis tanto a calçado como a estofos. Isto envolve matérias-primas recicladas e de base biológica com uma pegada de carbono reduzida. Estamos a desenvolver esta gama para satisfazer os nossos clientes europeus. Há uma tendência significativa de escolha de opções veganas e sem couro. À medida que esta tendência cresce, os nossos produtos devem alinhar-se com estas preferências. No entanto, precisamos de estar preparados. Não podemos oferecer o produto padrão que costumávamos fabricar. Precisamos de fornecer soluções alternativas e já temos algumas. Vamos estar sempre em estado de desenvolvimento e reajuste. Estamos neste ramo há 15, 20 anos. Se não nos tivéssemos adaptado, não estaríamos aqui hoje. Precisamos sempre de pensar com dois anos de antecedência para lançar produtos, mesmo quando o mercado ainda não os exige.
Entrevista à Engenheira Sónia Claro, Diretora Geral da Monteiro Fabrics, para a revista Monteiro Ribas.
